{"id":592,"date":"2012-05-09T19:03:17","date_gmt":"2012-05-09T22:03:17","guid":{"rendered":"https:\/\/www.ushuaialaska.com.br\/?p=592"},"modified":"2012-05-09T19:03:17","modified_gmt":"2012-05-09T22:03:17","slug":"mais-sobre-os-primeiros-dias-no-paraguai","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.ushuaialaska.com.br\/mais-sobre-os-primeiros-dias-no-paraguai\/","title":{"rendered":"Mais sobre os primeiros dias no Paraguai"},"content":{"rendered":"

Me esqueci de contar, na postagem sobre os dias no Paraguai, que desde nossos primeiros dias por l\u00e1 at\u00e9 os \u00faltimos eu costumava perguntar aos paraguaios que conhec\u00edamos qual a impress\u00e3o que tinham sobre os brasileiros, tanto historicamente quanto atualmente.<\/p>\n

No in\u00edcio eu fazia essa pergunta carregando algum sentimento de culpa, tendo em mente principalmente o massacre do povo paraguaio pela Tr\u00edplice Alian\u00e7a na Guerra do Paraguai. Pouco a pouco se juntavam a essa mesma pergunta a quest\u00e3o dos brasiguaios, \u00a0brasileiros donos de terras na fronteira entre o nordeste paraguaio e o centro-oeste brasileiro. Por fim, ap\u00f3s me frustar mais de uma vez buscando ouvir m\u00fasica paraguaia ao sintonizar as r\u00e1dios locais e s\u00f3 encontrando Michel Tel\u00f3, Tcherer\u00ea-tch\u00ea-tch\u00ea, funk carioca e sertanejo universit\u00e1rio, tamb\u00e9m me interessava saber dos paraguaios o que achavam da presen\u00e7a constante de m\u00fasicas comercias, canais de televis\u00e3o brasileiros e novelas da Globo, presentes em todo o pa\u00eds.<\/p>\n

\u00c9 claro que minha pergunta era um tanto tendenciosa (assim como esse texto) e for\u00e7ava uma resposta imensamente gen\u00e9rica; mesmo assim, n\u00e3o ouvi de nenhum paraguaio qualquer reprova\u00e7\u00e3o aos brasileiros, e sim, quase sempre, admira\u00e7\u00e3o. Sem ignorar a voca\u00e7\u00e3o imperialista do Brasil, paraguaios, uruguaios e argentinos com quem j\u00e1 cruzei por a\u00ed admiram a “pot\u00eancia produtiva brasileira”, e de alguma maneira respeitam o atual papel de lideran\u00e7a local que o Brasil exerce na Am\u00e9rica Latina, e particularmente entre os pa\u00edses do Mercosul. \u00c9 curioso como, no entanto, somos frequentemente\u00a0confundidos com americanos, canadenses ou alem\u00e3es: “Se fosse americano eu n\u00e3o ajudava!” – ouvi mais de uma vez.<\/p>\n

Escutei de um argentino num camping uruguaio: “O Brasil \u00e9 um fen\u00f4meno!”; de um paraguaio em Assunci\u00f3n que me falava das mulheres brasileiras, disse que sabem o que querem e o que n\u00e3o querem, e buscam o que querem com objetividade, mas sem deixar de brincar (“jugar”), em seguida malhou as mulheres argentinas; os caminhoneiros paraguaios e uruguaios tamb\u00e9m contam hist\u00f3rias das amizades que tiveram e t\u00eam com os caminhoneiros brasileiros.<\/p>\n

Seria s\u00f3 no Uruguai onde eu ouviria pela primeira vez alguma ressalva aos brasileiros, pelo Alfredo, um uruguaio a quem fomos pedir informa\u00e7\u00e3o na estrada no nosso primeiro dia de pedal pelo pa\u00eds. Aos nos recomendar conhecer Col\u00f4nia del Sacramento, \u00fanica cidade uruguaia de coloniza\u00e7\u00e3o portuguesa, o Alfredo disse que hoje o Brasil tem assumido o mesmo papel que os portugueses j\u00e1 cumpriram no passado, “mas pacificamente”.<\/p>\n

Numa das muitas conversas com o Giulio, paraguaio que nos hospedou pelo couchsurfing em Assunci\u00f3n, fiquei PASSADO!! quando nos contou de um epis\u00f3dio recente da diplomacia brasileira que eu desconhecia: ap\u00f3s o fim da Guerra do Paraguai, os “vencedores” (Brasil, Argentina e Uruguai) literalmente saquearam tudo que acharam por direito do territ\u00f3rio paraguaio; n\u00e3o seria exagero dizer que a mem\u00f3ria material do povo paraguaio se encontra h\u00e1 150 anos sequestrada. Em 2009 o Governo Lula reavaliou todos esses arquivos e objetos roubados, a fim de julgar se conviria abrir esses documentos publicamente ou devolv\u00ea-los ao Paraguai (a exemplo de Argentina e Uruguai, que devolveram o que guardavam recentemente). \u00a0Por fim, a diplomacia brasileira decidiu por seguir mantendo consigo esses documentos, a seu ver “comprometedores”. Um paraguaio que queira ter acesso a esses documentos, quase todos guardados no Pal\u00e1cio do Itamaraty em Bras\u00edlia, n\u00e3o tem permiss\u00e3o; no entanto, um brasileiro tem acesso a eles, entre os quais documentos hist\u00f3ricos relativos \u00e0 independ\u00eancia do Paraguai em 1810, artefatos da cultura guarani anterior \u00e0 chegada dos espanh\u00f3is, registros de can\u00e7\u00f5es paraguaias,\u00a0e o que mais me impressionou: um enorme canh\u00e3o conhecido como “Canh\u00e3o Crist\u00e3o” ou “El Cristiano”,\u00a0feito pelos paraguaios a partir da fundi\u00e7\u00e3o de v\u00e1rios sinos de suas igrejas para fazer frente ao poder de fogo da Tr\u00edplice Alian\u00e7a e depois capturado como trof\u00e9u de guerra pelo ex\u00e9rcito brasileiro. Esse canh\u00e3o encontra-se hoje no Museu Hist\u00f3rico Nacional do Rio de Janeiro e \u00e9 para os paraguaios um s\u00edmbolo de sua resist\u00eancia durante a guerra (fui buscar na internet mais informa\u00e7\u00f5es sobre esse caso e parece que o Brasil devolver\u00e1 pelo menos o canh\u00e3o, o resto segue no Itamaraty indefinidamente).<\/p>\n

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\"El<\/a><\/p>\n

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Me desculpem pelo tom generalizante e tendencioso do texto, n\u00e3o deu pra sair de outro jeito, e tudo \u00e9 realmente mais sutil e com mil mais vari\u00e1veis do que eu fa\u00e7o parecer no texto. Agora, o que os paraguaios, uruguaios e brasileiros tem me dito sobre os argentinos<\/em>\u00a0\u00e9 DRAMA!!, e vai ficar pra outra postagem.<\/p>\n

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