San Cosme foi um lugar primoroso de visitar pela história das dunas, pelo isolamento e pelas missões jesuíticas de Boaventura. Saímos da cidade depois de dois dias de acampamento e fomos diretamente a Encarnación, terceira maior cidade do Paraguai.
Apesar de bem maior, Encarnación tem um jeitão de cidade do interior do Brasil. Como já comentei no último texto, Encarnación sofreu uma reforma urbana recente, que reconstituiu sua centralidade e inundou uma parte da cidade. Fronteira com a Argentina, a cidade tem um comércio abundante, embora não comprável em escala com o de Ciudad del Leste e uma sensação de segurança inigualável no Paraguai. Não é exagero dizer que Encarnación é o exato oposto dos nossos preconceitos com relação ao Paraguai.
Chegamos à noite e procuramos a prefeitura, que estava fechada. Logo ao lado havia uma delegacia, onde os policiais nos indicaram os bombeiros voluntários amarelos de Encarnación. Sim, a profissão de bombeiro no Paraguai é mais uma predisposição do que profissão propriamente. Do comandante ao que recém entrou para o corpo, todos são voluntários. E ainda existem bombeiros amarelos e azuis, que se separaram nacionalmente em dois grupos de gestões independentes.
O quartel dos bombeiros amarelos ficava anteriormente na região que foi alagada. O terreno atual era emprestado pela Usina de Yacyretá. Nele, os bombeiros mantém 3 caminhões, todos importados. Um do Japão, um da Inglaterra e um da Holanda. O caminhão inglês tem direção do lado direito do motorista. Impressionante a adaptabilidade dos bombeiros paraguaios.
Nas três noites em que estivemos no quartel, resolvi problemas mecânicos, tomei sorvete pra caramba e dei uma entrevista pra Rádio Encarnación, a primeira da viagem. O filho de um dos locutores estava assistindo, então pedi que ele gravasse a entrevista com meu celular. Ficou meio tremido mas o resultado é esse aqui:
A parte que provavelmente se tornará o principal atrativo turístico de Encarnación é a novíssima orla, construída pela prefeitura com grana da Hidrelétrica de Yacyretá. Exemplo de como a construção do discurso oficial se faz a partir da perspectiva dos vencedores, a orla é enxergada como algo sensacional pela maior parte dos moradores da região.
Pertinho de Encarnación, estão as ruínas de Trinidad e Jesús, as últimas que visitamos num dia inteiro de pedal. Infelizmente a quantidade de informações no local das ruínas era insuficiente, jogada que claramente força o visitante a ter que pagar um guia, além de pagar a entrada das ruínas. Fiquei só com as fotos e as interpretações livres. Tá valendo:
Jesús:
No penúltimo dia, fomos checar a informação da proibição do cruzamento da ponte entre Encarnación e Posadas para pessoas em bicicleta e a pé. Definitivamente a mais surreal das proibições que encontrei em toda a viagem, esta normativa partir do exército Argentino, “por un tema de seguridad”. Fui até o lado Argentino sem a bicicleta para conversar com o oficial, e ao menos pareceu que ele fez o que pode. Ligou pro seu superior, questionou, mas prevaleceu a proibição. Terminada a conversa, deixei claro pra ele que a proibição era surreal, uma vez que por um “tema de segurança” a bicicleta não oferece risco nenhum. E se o problema era que a bicicleta era lenta, que tal avisar os motoristas de que uma bicicleta lenta vai passar?
Esse foi nosso primeiro contato com o lado argentino.
Muito legal… não tinha idéia de nada disso… vocês viraram meus professores de História, Geografia, estou curtindo me atualizar! Boa viagem…