Terminado o trecho do Paraguai, cruzamos para o lado argentino com as bikes num busão lotado e chegamos em Posadas num domingo à noite, se me lembro bem.
Posadas, capital da Província de Misiones, tem exatamente a mesma pegada de todas as cidades médias ou grandes argentinas que encontrei até aqui. Quadras quadradinhas, de 100 metros cada. Cafés, parrillas, bancos, praça central, chineses… Fomos parar nos bombeiros da cidade, desavisados de que eram militares. Até aqui, todo o contato com os militares da Argentina pode ser qualificado como péssimo (vide a proibição de atravessar com a bicicleta) e no caso dos bombeiros da cidade de Posadas não foi diferente. Perguntados se poderíamos passar duas noites no quartel, o bombeiro lançou um “no hay drama” e fomos direcionados a um quarto de entulhos. Nele, estava um desses carrinhos de mão que se usa para carregar pesos grandes e um monte de coisas velhas do bombeiros. Arrumamos um canto pra dormir no mínimo espaço que havia e passamos a noite no local. No meio da noite, uma pessoa veio retirar o carrinho de mão e vi que era o outro ciclista sobre que os bombeiros tinham avisado.
Já em Encarnación, o secretário de esportes da cidade avisara que estava um ciclista equatoriano na cidade, mas não o tínhamos encontrado. Moisés era o nome do primeiro cicloviajante que encontraríamos. Um cara estranhíssimo, não só pela adaptação grosseira que fez no seu equipamento para sua viagem de bike, mas também por uma série de encanações com defesa pessoal (como ter um estilingue e treinar quedas da bike) que nunca foram (nem acho que serão) uma preocupação nossa ao longo da viagem. A princípio falou que queria fazer um record no Guinness, depois disse que pegava carona com frequência. Enfim, com o Moisés, ficou claro pra mim o que pode acontecer quando nos isolamos por muito tempo das pessoas.
A noite continuaria longa, quando às 6h30 da manhã um bombeiro veio pedir que nos apresentássemos ao comandante. Desci e qual não foi a surpresa ao saber que o tal comandante ainda não tinha chegado. Voltei a dormir e lá pelas 7h30 o mesmo soldado veio nos chamar pra fazer a apresentação. Descemos, dessa vez os dois, e o tal comandante ainda não havia chegado. Era só pra causar transtorno que a tal apresentação era solicitada. Entendemos o recado, arrumamos as coisas e seguimos pro centro, em busca da secretaria de esportes.
Isso de estar aberto a qualquer coisa que possa acontecer e de às vezes não ter mais alternativas, muitas vezes nos deixa sem uma perspectiva clara de como será o final do dia. Mas acho que é exatamente isso, o esvaziamento das possibilidades concretas, que nos faz chegar a outro lugar de abertura com as pessoas. No caminho da secretaria, uma mulher nos perguntou de onde vínhamos e fez questão de nos acompanhar até o gabinete do secretário de esportes da cidade. Menos de meia hora depois de sermos quase expulsos pelos bombeiros, eu estava tomando um mate com o secretário de esportes da cidade. Ele nos daria alojamento no anfiteatro da cidade por quantos dias quiséssemos.
Hotel, casa, cachoeira, quartel do exército, bombeiros, fundos de um estacionamento e agora domiríamos no subsolo de um anfiteatro com vista para o Rio Paraná e a Orla da Cidade de Encarnación. Lugar incrível e inexplicável que tenha um alojamento. Passamos duas noites nesse lugar e pude fazer vários rolês pela cidade.
O que acho que mais me marcou da cidade de Posadas foi a clara distinção de raças que compõem o povo argentino e o povo paraguaio. Foi só cruzar uma ponte e deixamos de ver uma população majoritariamente indígena e passamos a ver sobretudo descendentes de italianos e espanhóis. O que os Argentinos fizeram com os índios dessa região ainda fica como incógnita, mas definitivamente é estranho.
Seguimos então pra cidade de Gobernador Virasoro, já na província de Corrientes. Em Misiones, as estradas tinham acostamento e, apesar do altíssimo movimento de caminhões e das lombadas no acostamento, era tranquilo seguir. No exato momento em que passamos a placa que anunciava a chegada da província de Corrientes, acabaram os acostamentos e tivemos que dividir pista com os caminhões. Foi um dos pedais menos prazerosos que já fiz, no limite de um torcicolo de tanto que tinha que olhar pra traz e descer pro mato com a bike super carregada.
Em Gobernador Virasoro falamos com uma pessoa da prefeitura que nos deu abrigo no ginásio da cidade. Aí escutamos sobre a Fábrica de Erva Mate da marca Taragüi, que fica a poucos kilômetros da cidade. No dia seguinte, passamos na fábrica e foi legal conhecer um pouco mais da fixação de Argentinos, Uruguaios e Rio Grandenses pelo mate, uma erva originariamente das américas, consumida antes pelos índios e agora por todos. Voltamos à tarde pra estrada horrorosa e o pedal não rendeu muito. Paramos num posto e decidimos cruzar pro Brasil. Lá pelas 10 da noite saímos em direção a Santo Tomé, porque o fluxo da estrada finalmente tinha baixado. Realmente aí o pedal rendeu e chegamos na fronteira com São Borja lá pelas 2h da manhã.
Depois de buscar informações numa boate, seguimos em direção dos bombeiros que nos receberam e neste ponto começa o trecho do Rio Grande do Sul.
Que lindos vocês nessa viagem!
Tudo como possibilidade!
Reading posts like this make surfing such a plaeusre
June 27, 2012 I like this web blog its a master peace ! Glad I observed this on google. “Don’t spend time beating on a wall, hoping to transform it into a door.” by Dr. Laura Schlessinger.